Flamengo e lições de investimento

Quantas vezes você já ouviu alguém atribuir um investimento muito bem sucedido a um golpe de sorte? Raríssimas, não? O acaso nem sempre é devidamente creditado por seus êxitos. E isso acontece não só no campo das finanças, mas em praticamente todas as áreas de atuação humana. Para ilustrar essa tese, Hudson Bessa, sócio da HB Escola de Investimentos, analisou, em coluna no Valor Investe, a narrativa construída durante a final da Libertadores. Olhando a história desse jogo, é possível ver algumas analogias entre a vitória do Flamengo e lições de investimento.

Em resumo, ouvindo-se narrador e comentaristas, o Flamengo ia muito bem até tomar o gol do River Plate, aos 14 minutos de jogo. A partir dali, o adversário cresceu, e, dessa forma, o time brasileiro não conseguia mais impor seu jogo. A partida se desenrolou desse jeito até os 43 minutos do segundo tempo, quando o Flamengo empatou. E, logo depois, em menos de quatro minutos, marcou o gol da virada.

“A partir de então, nos minutos finais, parecia que estava sendo narrado o jogo de outro time”, escreve Hudson Bessa. “O ponto é: será que o time mudou tanto de um momento para outro? Será que não tínhamos dois times muito bons no jogo todo, cujo resultado mais dependia das falhas de um ou de outro.”

Flamengo, economia comportamental e lições de investimento

O professor mostra como a forma como o jogo foi narrado é semelhante a um caso contado por Nassim Taleb, no livro A lógica do Cisne Negro. O exemplo é citado por Daniel Kahneman em Rápido e devagar. Trata-se da cobertura da imprensa à prisão de Saddam Hussein, em 2003.

Na manhã daquele 13 de dezembro, o serviço de notícias da Bloomberg publicou: “Títulos do Tesouro Americano sobem; captura de Hussein pode não conter o terrorismo”. Meia hora depois, os preços no mercado mudaram de direção. A manchete mudou para “Títulos do Tesouro americano caem; captura de Hussein impulsiona apelo por ativos de risco”.

“Está claro que o mesmo fato não pode suscitar explicações para movimentos totalmente opostos nos preços dos ativos”, escreve Hudson.

Para o professor Hudson Bessa, tanto no caso da narrativa do jogo do Flamengo quanto em alguns momentos nas explicações sobre as variações dos preços dos ativos, enfrentamos nossa eterna busca por causalidade.

“Buscamos causa e coerência como forma de justificar os resultados das ações, nossas ou de outros. Se não as encontramos, isso causa incômodo”, afirma. Nessa situação, diante da peça faltando no quebra-cabeça, acabamos muitas vezes elegendo uma causa, somente para justificar o efeito.

E se enganar sobre as causas das oscilações dos preços dos ativos pode levar a decisões que custam bem caro ao investidor. Portanto, escreve Hudson Bessa, é preciso ter muito cuidado com explicações rápidas e fáceis sobre o desempenho dos investimentos. O melhor é seguir os planos de curto, médio e longo prazo. Assim como no futebol, ficar trocando de técnico a cada rodada pode trazer vitórias pontuais, mas dificilmente o campeonato.

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