Governos devem usar o orçamento fiscal para atenuar a retração da economia.
A crise do coronavírus ganha, a cada dia, uma dimensão maior. Como resultado, a retração da economia global será profunda.
Aos efeitos financeiros de tantas crises que já vimos, somam-se mortes e o desamparo de muitas pessoas que viviam na informalidade, além dos novos miseráveis atingidos pelo desemprego.
Os efeitos no mercado financeiros são profundos, conforme escrevi em artigo recente.
Nesse sentido, a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, em discurso em 16/04, classificou a crise do coronavírus como inédita:
- Mais complexa, com efeitos interrelacionados entre saúde e economia que nos forçaram a uma parada completa e mudaram nossa forma de viver;
- Mais incerta, porque estamos aprendendo a cada dia, como ela se desenvolve e quais as alternativas para religar as economias; e
- Verdadeiramente global. Esta pandemia que não respeita fronteiras, e parece ser capaz de assumir proporções ainda maiores
As projeções do FMI para a economia mundial em 2020, presentes relatório World Economic Outlook (WEO) de abril, indicam uma retração da economia mundial de 3%, com as economias avançadas retroagindo 6,1%.
Contudo, o índice não captura uma informação importante. Enquanto Itália e Espanha acusam taxas de crescimento de -9,1% e -8%, respectivamente, os EUA anotam -5,1%.
Considerando que à época das estimativas a situação nos EUA ainda não havia alcançado o ápice, o resultado pode ser ainda pior.
Já entre os emergentes, a taxa de -1%, se deve principalmente à China. Com 15% do PIB mundial, e crescimento de 1%, o país puxa a média.
Olhando para nossa região, América Latina e Caribe recuam 5,2% e Brasil 5,3%.
A situação é tão grave que o FMI estima que o socorro já tenha consumido US$ 8 trilhões dos orçamentos dos países e mais US$ 6 trilhões em programas de linhas emergenciais de crédito e compra de compra de ativos.
Brasil foi pego em um momento ruim.
O Brasil foi pego em um momento ruim. Em meio a uma tímida recuperação econômica, com um desequilíbrio fiscal renitente, uma relação dívida PIB elevada. Enquanto caminhamos para para 85%, nossos pares dos países emergentes se situam em pouco mais de 60%.
A tragédia social e humanitária exige esforço fiscal. Portanto, governos precisam entrar de cabeça, comprometer orçamentos e coordenar os esforços para minimizar os impactos, principalmente sobre os mais vulneráveis.
Como disse o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, o momento é focar nas pessoas e não de fazer contas. Dessa forma, o ajuste do orçamento deve ficar para 2021.
É preciso gastar com responsabilidade
No momento, o Congresso e a equipe econômica, travam um cabo de guerra em torno do orçamento emergencial. O centro da questão está no tamanho da ajuda e em uma forma de evitar que despesas provisórias se eternizem.
Essa talvez seja das discussões mais importantes. Se governadores e legisladores aproveitarem este momento para burlar as regras da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e se livrar de suas obrigações de crédito junto a União (dívidas assumidas).
Se caminharmos na direção da farra fiscal, rapidamente voltaremos aos anos 80, em que vivíamos em meio a um caldo composto por descalabro fiscal, inflação elevada e muito populismo.