Os robôs de investimento vão tomar o posto do gestor?

Felipe Sotto-Maior (Vérios Investimentos) fala no debate da HB Escola de Negócios

O investidor preenche o regulamentar formulário de suitability. As respostas indicam o perfil do cliente. E, com base nisso, é oferecido um leque de produtos financeiros. Na etapa seguinte, o gestor de investimentos verifica com o cliente se a proposta está de acordo com o almejado. Assim, a carteira de investimentos está montada. Esse roteiro de elaboração de um portfólio de investimentos antes durava horas ou até dias. Hoje em dia pode ser cumprido num espaço de tempo cada vez menor. A tecnologia e o advento dos robôs de investimento aceleraram as etapas, com cliques e respostas quase instantâneas e até ações preditivas.

O futuro do aconselhamento de investimentos foi o tema do debate realizado pela HB Escola de Negócios na quinta-feira (3), na Distrito Fintech, em São Paulo. Ingrid Barth (fundadora da Linker), Monica Saccarelli (fundadora da Diin), Augusto Mateus (sócio da CMS INVEST) e Felipe Sotto-Maior (CEO da Vérios Investimentos) debateram como conviverão – e já convivem – “robo advisor” e “human advisor”. Hudson Bessa, sócio da HB, mediou o evento.

A interação com robôs cada vez mais humanos

Quantas vezes você pisou em uma agência bancária no último mês? Quantas vezes conversou com seu gerente, mesmo por telefone? Se é cliente de uma corretora ou uma gestora de investimentos, sabe onde fica a empresa? Ou sempre resolveu tudo pela internet, desde o cadastro?

A tecnologia torna as relações cada vez menos presenciais no mercado financeiro. Aliás, isso ocorre em todos os setores econômicos e nas nossas vidas. Essa é uma realidade bem óbvia para os clientes. Há praticamente um consenso de que a vida ficou mais fácil. As filas nos bancos são um passado distante. Quase tudo é resolvido por um clique.

A tecnologia no mercado financeiro não apenas está reduzindo os deslocamentos dos clientes. Em muitos negócios, ela está indo além disso: deixou de ser suporte na relação instituição financeira-consumidor para definir a própria relação. Quem está resolvendo a vida do consumidor do outro lado da linha, da tela, pode ser um robô. “E pode ser que a pessoa não fique nem sabendo disso”, disse Felipe Sotto-Maior.

Só para exemplificar a diferença cada vez mais sutil entre o atendimento por um humano ou um robô, Felipe e Ingrid Barth citaram uma experiência realizada pelo Google. Na conferência anual da empresa em 2018, foi divulgado um áudio em que a assistente virtual do Google faz um agendamento por telefone em um salão de beleza. Surpreendentemente, o humano do outro lado nem percebe que interagiu com um robô. “Surpreendentemente”, por enquanto. Ao que tudo indica, em breve, não haverá mais surpresa nesse tipo de demonstração.

Como disputar espaço com os robôs de investimento

Com robôs substituindo os humanos em diversas tarefas no dia a dia de bancos, corretoras e gestoras de investimento, as habilidades exigidas dos profissionais estão mudando. Quais competências aqueles que querem trabalhar no mercado financeiro devem desenvolver hoje? Além, é claro, de obter as certificações e credenciais exigidas pelos órgãos reguladores para cada posto.

Felipe Sotto-Maior destaca conhecimentos em programação. “Não precisa saber programar, mas tem de ter noção”, disse. No dia a dia das fintechs, entender lógica e saber conceitos básicos de programação são importantes em todas as áreas.

Mesmo para quem atua em empresas que não usam robôs de investimentos, acompanhar as novidades tecnológicas é essencial, afirmou Augusto Mateus. Pois outros tantos processos do setor são ou podem ser automatizados. Portanto, é necessário estar atualizado com a tecnologia para não perder oportunidades de se tornar mais eficiente e atender melhor os clientes.

Além das habilidades técnicas

Além de habilidades ligadas a programação e tecnologia no geral, Monica Saccarelli, da Diin, dá uma dica de um campo de estudos: a psicologia econômica. A empreendedora contou que ela própria se enveredou por estudos na área para conhecer melhor o comportamento do investidor. Monica cita a professora Vera Rita de Mello Ferreira como autora de referência para quem quiser ler sobre o assunto.

Por fim, Ingrid Barth, fundadora da Linker, afirmou que acaba se preocupando bastante como os chamados soft skills na hora da contratação. Para ela, um programador mediano pode receber treinamento e ganhar novas habilidades. “Mas não posso educar alguém a ser ético. Isso vem na formação da pessoa”, disse.

Hudson Bessa, sócio da HB Escola de Negócios, reiterou a visão de que a valorização da ética e da transparência melhora o mercado como um todo. Isto porque criam-se relações duradouras e rentáveis para todas as partes – empresas, profissionais e clientes, independentemente da automação.

Os robôs de investimento não são infalíveis

A necessidade de buscar profissionais que tenham qualificações que vão além dos requisitos técnicos é ressaltada nos momentos de crise. O que fazer, por exemplo, em caso de erro dos robôs de investimento? Toda a resposta à falha deverá ser comandada com cuidado e com a aproximação mais humana possível aos clientes.

>> Leia também: E quando o robô de investimento erra

O debate O futuro do aconselhamento de investimentos: como conviverão robo advisor e human advisor foi realizado pela HB Escola de Negócios, com apoio de ABAAI, ABFintechs e Distrito.

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