O impacto da redução da Selic em nossos investimentos

A taxa Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira e é definida pelo COPOM (Comitê de Política Monetária), que se reúne a cada 45 dias. Ela é a referência para os demais juros da economia. Trata-se da taxa média cobrada em negociações com títulos emitidos pelo Tesouro Nacional, registradas diariamente no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic).

Desde outubro de 2016, a taxa Selic vem em trajetória de queda, cedendo 7,75 pontos percentuais de 14,25% até atingir 6,5% em março de 2018. Após mais de 1 ano com a Selic nesse patamar, na última reunião, em 31 de julho, o COPOM realizou mais uma redução, para 6%, com o objetivo de estimular o investimento na economia uma vez que a inflação está em níveis controlados e as reformas propostas pelo governo estão em andamento.

A redução da Selic tem impacto em nossos investimentos?

Sim, a redução da Selic tem impacto em nossos investimentos. E esse impacto é direto.

A população brasileira ainda possui um perfil bastante conservador quando comparamos com os investidores de fora do país. A pizza de alocação de investimentos do varejo de julho de 2019 (abaixo) mostra que a parcela de recursos alocado na poupança permanece elevada, quase 40% do total. Desde dezembro de 2015, quando a Selic estava em 14,25%, houve uma ligeira queda de 3,6%. Vale lembrar que a regra de rendimento da poupança é atrelada à Selic. Quando a Selic está acima de 8,5% a.a., a poupança remunera 0,5% a.m. + a TR. Quando a taxa Selic está abaixo de 8,5%, a remuneração é de 70% da Selic a.a. (cenário atual).

 

Em períodos de taxa de juros elevada, os produtos de renda fixa oferecem uma remuneração considerada atrativa para os investidores. Porém, no cenário atual, em troca de uma remuneração mais elevada, os investidores procuram produtos mais sofisticados e, consequentemente, com um nível de risco maior.

Nesse contexto, a pizza de investimentos dos clientes do varejo vem se remodelando ao logo desses quase quatro anos. Os fundos de renda fixa com duração alta (long duration), que possuem maior volatilidade, ganharam mais espaço na carteira de investimento desses clientes, passando de 6,4% em dezembro de 2015 para quase 10% em julho deste ano. O mesmo movimento é observado nos fundos multimercados, com crescimento de 4,2 pontos percentuais na participação. O investimento direto em ações também apresentou crescimento, passando de 1,6% para 4,0% no total da carteira dos clientes. 

Por outro lado, os títulos agrícolas e imobiliários, que são bastante atraentes por conta da isenção fiscal para investidores pessoa física, sofreram uma queda brusca, passando de 6,0% para 3,4% e 10,4% para 5,4%, respectivamente.

Redução do Selic impacta mais clientes de alta renda

 

A busca por retornos mais elevados é mais clara quando observamos apenas a carteira dos clientes do Varejo Alta Renda, uma vez que esses clientes possuem acesso a produtos mais sofisticados. Tradicionalmente, a pizza de investimentos desses clientes possui uma diversificação maior. 

 

Houve claramente uma redução dos recursos alocados em fundos de renda fixa com duração baixa (short duration), de 23,4% para 21,0%. E um aumento em fundos da mesma classe, mas com duração mais alta (9,5% para 14,9%), indicando mais uma vez que os clientes estão assumindo um maior nível de risco em troca de produtos mais rentáveis.

Os clientes do segmento alta renda também estão alocando mais recursos em fundos multimercados, o percentual da carteira passou de 3,0% para 10,1%. O investimento direto em ações também aumentou, 2,8% da carteira do segmento era alocada em ações em 2015, passando para 6,7%. Historicamente, esse tipo de cliente possui alocação baixa em poupança, sendo assim, o número se manteve estável.

Os números indicam que a manutenção das taxas de juros em níveis próximos a 6% por prazo relativamente prolongado já começa a surtir efeitos no asset allocation, ou seja, na estratégia de investimentos das famílias brasileiras. O direcionamento dos recursos para ativos com maior grau de risco demonstra o provável início de um processo de busca por maior rentabilidade e a consequente aceitação de volatilidades mais expressivas.

Ao que parece, o binômio risco-retorno começa a ser verdade também no Brasil. Como já escrevemos aqui no blog da HB, não é possível mais esperar a tríade perfeita: juros altos, risco baixo e alta liquidez.

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