Qual a importância do juro real no ‘bull market’ recente no Brasil?

Coluna do Valor Investe

Mais de 2/3 dos investidores em Bolsa nunca viveram em um ambiente de Bolsa de lado e inflação e juro real elevados. Os ecos do passado preocupam.

Esta é apegada do artigo desta quarta no Valor Investe.
A seguir um fragmento.

Nos últimos meses o Brasil vem retomando seu velho normal, pelo menos no que se refere aos investimentos.
A taxa Selic, que em pouco mais de um ano foi elevada de 2% a.a. para os atuais 11,75% a.a., associada à elevação do spread de risco Brasil vem carreando recursos para os ativos de renda fixa. Sobre o spread, podemos tomar as taxas pagas nas NTN-B (ou Tesouro IPCA+) que, segundo a ANBIMA, estão em torno de 5,5% a.a. para prazos de um ano.

Em meio a este ambiente nitidamente mais volátil e taxas de juros reais na casa dos 6% a.a., a tríade formada por alto rendimento, baixo risco e liquidez está de volta. Difícil de lutar contra ela.

Após o Plano Real, o primeiro período de bonança da Bolsa, em que ela superou com consistência a renda fixa, ocorreu entre 2003 e 2007. Nestes cinco anos a Bolsa se valorizou e superou o CDI em cada um deles. Neste período, contudo, a estabilização econômica ainda estava em fase de consolidação e a taxa de juro real média estava em 10% a.a., ou seja, a renda fixa continuava muito atraente.

O segundo ciclo de crescimento robusto da Bolsa ocorreu entre 2016 e 2019. Neste período o Ibovespa variou em média 28% contra 9% do CDI. Contudo, a taxa de juro real para o período foi de 4,5%, menos da metade da verificada no ciclo anterior.

O fato mais notável que denota a diferença entre os ciclos é a quantidade de pessoas físicas na Bolsa. Segundo a B3, em 2018 eram 700 mil investidores contra quase 4,2 milhões em fins de 2021, um crescimento de 500% no período.

Um patamar de juros reais que proteja da inflação e que ainda garanta um ganho próximo a 6% a.a. pode ser um belo atrativo, ainda mais se o ambiente à frente for de incerteza na economia e inflação elevada.

Os dados da B3 mostram que mais de 2/3 dos investidores que ingressaram no mercado de renda variável a partir de 2018 têm menos de 40 anos. São investidores que não passaram por grandes crises e ainda não foram expostos aos juros reais elevados.

É neste contexto de desarranjo fiscal, populismo econômico e inflação, que preocupa assistir ao Banco Central atuando como o último muro de contenção para evitar a desancoragem das expectativas.

Vamos acompanhar a reação dos investidores a este ambiente que evoca um passado que parecia enterrado.

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