No artigo do Valor Investe desta semana escrevo sobre o que pode estar por traz da apatia da Bolsa frente as quedas da Selic.
O mundo está complicado. O ambiente é de zigue-zague.
Segue uma amostra.
O investidor deve estar se perguntando sobre o que aconteceu, afinal desde março que o IBOVESPA e o S&P vinham subindo de forma consistente até parecerem ter esbarrado em uma parede. No caso brasileiro, inclusive, alunos e investidores têm me questionado se diante de dois cortes de meio ponto percentual da Taxa Selic as ações não deveriam estar se valorizando.
Depois de quase um ano no patamar de 13,75% o Banco Central reduziu a taxa básica de juros para 12,75% e sinalizou a possibilidade de mais cortes de 0,5% nas próximas reuniões, até não se sabe quando. Arcabouço fiscal e a aprovação da reforma tributária na Câmara dos deputados têm sido apontados como fatores que trazem mais previsibilidade para o orçamento público e demonstram compromisso com reformas de longo prazo.
Contudo, a economia é dinâmica e investidores e empresários não tomam decisões olhando apenas os juros. Se o custo de oportunidade para se investir nas ações foi reduzido, por outro lado a incerteza que paira sobre o ambiente econômico aumentou.
A reforma tributária empacou no Senado e parece ter se tornando mais uma vítima dos vários grupos de interesse que operam em busca de alíquotas reduzidas de imposto, isenções e toda a sorte de benefícios. Ao que tudo indica o Brasil tem chances reais de largar com a maior alíquota de imposto único do mundo.
Já o outro trunfo do Governo, o arcabouço fiscal, está passando por uma crise precoce de credibilidade. Nove entre dez analistas, para ser conservador, não endossam a previsão de déficit primário zerado em 2024.
Do front externo o que vem impressionando é a resiliência da economia americana, que continua produzindo mais empregos e aumentos reais de salários apesar das taxas básicas de juros já estarem entre 5,25% e 5,5%. Havia uma expectativa razoavelmente generalizada de que o ímpeto da economia americana seria domado após uma sequência de aumentos promovida pelo Banco Central Americano (FED), que trouxe a taxa 0,25% em março do ano passado até o patamar atual. Mas isso não aconteceu, e as apostas em mais aumentos ou na manutenção do patamar atual por muitos meses à frente começa a dominar as expectativas dos analistas e gestores. O aumento persistente dos Treasuries não deixa dúvida de que existe uma tensão no ar.