Não existe almoço de graça, nem na renda fixa

Coluna do Valor Investe

No artigo do Valor Investe desta semana abordo os feitos da marcação a mercado (ou valor justo) na rentabilidades dos fundos de renda fixa.

Com exceção de alguns eventos isolados, de crédito principalmente, de maneira geral, enquanto as taxas de juros estavam cadentes, ou mesmo em patamares baixos para os padrões brasileiros, muitos fundos conseguiram dar uma “turbinada” nos retornos. Mas a reversão do quadro de recuperação econômica pós-covid, impulsionada por um mosaico composto de inflação, crise hídrica e reiteradas ameaças ao equilíbrio fiscal, forçou o Banco Central a aumentar as taxas de juros e provocou perdas entre os fundos de renda fixa mais expostos aos prazos longos e aos emissores menos qualificados.

Infelizmente muitos investidores ainda têm em mente a ficção de que a renda fixa “não balança” e seria imune às perdas, no pior cenário ela fica no “zero a zero”. Contudo, hoje vemos em uma intensidade bem maior que no passado um número maior de fundos de renda fixa no campo das rentabilidades negativas.

Como diria Milton Friedman, não existe almoço de graça.

O risco assumido pelos fundos de renda fixa mais agressivos que trouxe ganhos adicionais em uma conjuntura de estabilidade e perspectivas positivas, é o mesmo que agora impõe perdas quando a economia dá sinais de fadiga e as expectativas se deterioraram.

Este efeito ocorre pela necessidade de marcar a mercado os títulos em carteira. Ou seja, é necessário que os preços dos ativos de um fundo sejam aqueles que o gestor conseguiria vendê-los.

Apenas para efeito de demonstração, uma LTN com vencimento em janeiro de 2026 que estava sendo negociada em torno de 11,9% a.a. na semana passada era cotada a cerca de 6,6% a.a. em janeiro deste ano. Considerando que na data de vencimento o papel será resgatado a R$ 1.000, este título que em janeiro valia em torno de R$ R$ 726,33, se tivesse sido negociado a 11,9% a.a., na semana passada, teria seu preço reduzido para algo como R$ 631,66. Ou seja, em onze meses este título teria perdido 13% de seu valor.

Voltando ao passado. Em 2002 vimos, pela primeira vez, que até os papéis de curtíssimo prazo emitidos pelo Governo, as Letras Financeiras do Tesouro (Tesouro Selic), podiam perder valor.

Ano que vem tem eleições, vamos torcer para que este passado não volte.

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