Coluna do Valor Investe
No artigo do Valor Investe de hoje escrevo sobre os danos causados, pelas recentes declarações do Presidente Lula, à credibilidade do Arcabouço Fiscal.
Segue um fragmento.
No último dia 27 de outubro o Presidente Lula causou grande rebuliço no mercado ao desacreditar a meta de zerar o déficit fiscal no próximo ano. Em poucos segundos ele conseguiu desfazer meses de trabalho, de seu Ministro da Fazenda, para tentar tornar crível o compromisso do Governo com a disciplina orçamentária.
Logo após esta declaração, promovi em debate com meus alunos da pós-graduação sobre a necessidade do equilíbrio fiscal e uma questão de fundo ficou clara, qual seja: será que um déficit de apenas 0,5% é tão relevante mesmo?
A seguir conto um pouco desta conversa.
Desde o início era sabido que seria muito, mas muito difícil mesmo, conseguir zerar o déficit em 2024. Nos últimos meses, conforme as votações de algumas medidas que poderiam ampliar a receita foram sendo postergadas e as estimativas de arrecadação iam sendo frustradas, foi se formando um consenso, entre os economistas, de que um déficit no próximo ano seria inevitável, e as apostas miravam algo em torno de 0,7%.
Aliás, este foi um questionamento disseminado, afinal porque a declaração do Presidente deveria causar celeuma se já havia um consenso sobre o estouro da meta zero. Aqui vale lembrar da frase atribuída ao imperador Romano Júlio César sobre sua segunda esposa Pompeia, “não basta ser honesta, tem que parecer honesta”.
Ao jogar a toalha do déficit zero de forma tão à vontade e expor seu Ministro com tanta desfaçatez, o Presidente acabou por avalizar a impressão de que ele, assim como seu partido, não acredita na disciplina fiscal como um pilar necessário ao equilíbrio macroeconômico. Portanto, nesse momento, ele ajudou a reforçar a percepção de que o recém aprovado arcabouço fiscal seria mais uma peça de marketing a ser oferecida ao mercado do que um compromisso sério.
Todos somos capazes de entender que a realidade se move a nossa revelia, de que os resultados podem ser frustrantes apesar de todo nosso esforço. Mas é difícil convencer alguém a embarcar em uma viagem quando duvidamos da intenção do timoneiro.
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